“Mais vale um dia no centro do TEU querer do que uma vida sem jamais te conhecer”.
Esse é o meu sentimento depois de ter passado três dias na cidade de Barra Longa em Minas Gerais. Uma das cidades mais atingidas pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana.
Meu coração nunca se esquecerá dos abraços fortes, dos olhares desolados, de um clamor por consolo, de um coração que chorava e implorava por socorro através das lágrimas que escorriam pelo rosto. O que me consolava era o sorriso aberto quando chegávamos com carinho, oração e suprimento. Nosso objetivo era mostrar que por mais que eles achassem que estivessem esquecidos, existia um povo que se lembrava deles. Haviam pessoas que estavam ali para amá-los e servi-los.
Um lugar de refúgio. Era isso que queríamos ser; ainda que por pouco tempo. Triste era não ter resposta para a pergunta tão comum:
– É verdade que a outra barragem vai se romper? Dizem que é pior que essa, né?
O medo estava impresso no olhar. E eles esperavam apenas uma resposta:
– É boato. Fiquem tranquilos.
Mas o que podíamos dizer era:
– Vamos orar, né? Só o Senhor pode ter e ser a resposta para o que vocês têm vivido aqui.
Barra Longa tem cerca de 6 mil habitantes e fica cerca de 60 km de Mariana. A praça principal, à beira do Rio do Carmo, um dos formadores do Rio Doce, foi completamente destruída, assim como várias casas e lojas da região e ao longo do Rio. Além disso, Gesteira, um povoado a cerca de 12 km de Barra Longa, teve casas completamente destruídas. O bairro de Morro Vermelho, a 2 km do centro, também foi atingido.
Segundo os relatos dos moradores, não aconteceu nenhum aviso oficial de que a lama chegaria até a cidade. A barragem em Mariana se rompeu por volta das três da tarde. Em pouco tempo, a informação correu na cidade, boca a boca, mas os moradores acharam que fosse boato ou que a enchente não chegaria de forma tão agressiva quase 70 km depois do rompimento da barragem.
Meia noite, a lama começou a chegar… Entre 2 e 2:30 da manhã, as casas na beira do Rio já estavam tomadas e praça principal coberta de lama. Moradores contam que eles viam caminhão, fogão, geladeira, madeiras, animais mortos rolando junto com a onda de lama.
Arthur, 10 anos, e sua irmã, 8 anos, filhos de Sandra e Renato, não dormem desde a tragédia. Eles acordam com pesadelos durante a noite. Perguntam o tempo todo se o Rio vai levar a sua casa. A família assistiu, na janela, à enxurrada de lama levar todos os seus animais e suas plantações. A irmã de Sandra estava grávida de 7 meses quando tudo aconteceu. O desespero de ver tudo sendo levado pela lama a fez entrar em trabalho de parto. Seu filho faleceu algumas horas depois.
Leandro, um deficiente físico, além de ter perdido sua casa, seus móveis e todas as suas roupas, perdeu também a sua cadeira de rodas. Ele conseguiu se salvar, graças a sua esposa que, quando viu a onda de lama, pegou-o no colo e correu para um ponto alto deixando tudo para trás.
O comerciante Fernando e sua esposa hoje moram com três filhos, dentre eles um bebê no salão do restaurante que ficava em cima da sua que foi completamente destruída e a Samarco ainda não providenciou um local para eles se hospedarem. Fernando é cardíaco. Estava com o pé inchado quando chegamos para fazer visita. Seu esgoto está a céu aberto e para entrar no salão do Restaurante é necessário pisar na lama tóxica.
Muitas histórias partiram o meu coração, mas a certeza de que o Senhor nos levou até aquelas famílias e saber que pudemos ser a provisão, o ombro e a resposta de alguém nos conforta.
Foi triste ver tudo aquilo e saber que aquelas famílias precisam começar do zero. Elas não perderam apenas bens materiais, elas perderam tudo.
Vou publicar aqui aos poucos outras histórias de pessoas que marcaram a minha visita a Barra Longa.